Equidade racial
O programa Equidade racial parte do reconhecimento do racismo como elemento estrutural das desigualdades no Brasil. Incidir sobre essas relações significa desorganizar os sistemas de discriminação que as perpetuam e aprofundam, sustentados continuamente pelo mito da democracia racial.
Conheça as doações desse programa.
O programa apoia organizações e iniciativas a partir de cinco objetivos estratégicos:
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Consolidar um sistema integrado de ações afirmativas para superação das desigualdades
No contexto brasileiro, as desigualdades socioeconômicas permanecem como legado do processo de escravização do povo negro, reproduzidas por mecanismos de racialização da exclusão institucional, que são repetidamente atualizados pela ausência de acesso a direitos, como educação de qualidade, saúde integral, trabalho digno, propriedade e meios de produção de bens. As diferenças de acesso a bens sociais segmentam hierarquias rígidas, onde o topo da pirâmide de renda pertence a homens brancos, e a base localiza as mulheres negras, com poucas chances de mobilidade.
Ações afirmativas produzidas e ampliadas nas últimas décadas possibilitaram mudanças consistentes nesse cenário, ainda que tenham sofrido permanente ameaça de retrocesso por pressões políticas e ideológicas contrárias à promoção da equidade racial. A partir do sucesso da Lei de cotas no ensino superior, é necessário qualificar continuamente seus mecanismos, impactos e atualizações, bem como ampliar a política para estudantes quilombolas, além de integrar a lógica das ações afirmativas em outras áreas, como os ensinos fundamental e médio, mercado de trabalho, funcionalismo público, diplomacia e sistema de justiça.
O Ibirapitanga apoia iniciativas que consolidam a permanência estudantil no ensino superior, que aprimoram o acesso de estudantes quilombolas à política de cotas e que incidem na implementação de monitoramento e avaliação das políticas de ações afirmativas.
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Fortalecer movimentos e lideranças negras para incidência em espaços de poder
A escravidão e o racismo construíram as bases de um projeto nacional marcado pela exclusão, subalternização e violência sobre a população negra. Sua continuidade é assegurada pela distorção na representatividade formal de negras e negros em diversas esferas da vida social e política.
Para superar esse projeto excludente de nação, é necessário fortalecer a presença de lideranças negras em espaços de poder e decisão e ampliar a capacidade de influência de movimentos e organizações negros, cruciais para a incidência em políticas públicas eficazes orientadas a enfrentar as desigualdades históricas persistentes. A representatividade política de pessoas negras fortalece a democracia, ao garantir que as perspectivas de 56% da população sejam consideradas na formulação de políticas públicas e na tomada de decisões.
O Ibirapitanga apoia iniciativas que ampliam a capacidade de incidência de movimentos e lideranças negros, que fortalecem o compromisso do Estado com a proteção de lideranças negras atuantes no enfrentamento às violências e que aprimoram mecanismos legais de promoção de representatividade política negra.
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Valorizar a memória negra fortalecendo a infraestrutura da produção simbólica afrobrasileira
A construção de uma memória seletiva e branca encobriu historicamente a centralidade do papel de pessoas africanas e sua descendência na construção da sociedade brasileira, promovendo um apagamento de sua experiência no imaginário social predominante no país. Esse processo foi amparado por sistemas de arquivologia, museologia e preservação dos patrimônios culturais no Brasil,estruturados a partir de uma lógica colonial, de subrepresentação do legado africano e afro-brasileiro, bem como na ausência de estratégias e coordenação de políticas públicas em torno da memória.
A memória na perspectiva negra funciona como esse recurso dinâmico, em que a história é revisitada, mas também recriada a partir do presente povoado pelos movimentos em torno da questão racial. A produção e tensionamento da memória sobre a história do Brasil, à luz das lembranças e experiência da população negra e de seus movimentos sociais, é uma sensível e importante frente de atuação para a promoção da justiça racial.
O Ibirapitanga apoia iniciativas de fortalecimento de acervos comunitários, lugares e espaços museais de memória negra, bem como de formulação de políticas públicas voltadas à proteção e preservação da memória negra.
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Consolidar políticas reconhecimento, reparação e de enfrentamento à violência racial
Os desafios de contorno conceitual, baixa inserção no debate público e a escassez de ações reparatórias com desenhos políticos reconhecidamente eficazes, somados à resistência do Estado brasileiro e suas elites históricas em reconhecerem o legado da escravidão e suas consequências, obstacularizam o desenvolvimento e aprofundamento de políticas de reparação, contribuindo para a continuidade da reprodução do racismo no Brasil.
A violência racial, que afeta a população negra de forma desproporcional e manifesta-se de várias formas, — como na alta taxa de homicídios, no racismo religioso e na violência obstétrica — é uma face concreta dessa reprodução. O fortalecimento da memória histórica e das estratégias de resistência das comunidades negras como instrumento de denúncia da violência e reivindicação por reparação, é essencial para a construção de uma justiça racial efetiva.
O Ibirapitanga apoia iniciativas de fortalecimento da litigância estratégica, advocacy e pesquisa em prol de políticas de reparação para população negra, e de desenvolvimento de políticas reparatórias para famílias e territórios negros afetados pela violência de Estado.
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Fortalecer o campo da pesquisa e comunicação centralizando a questão racial
Para além da fundamental atuação dos movimentos negros, o enfrentamento à problemática racial deve estar no centro das preocupações de toda a sociedade que é, em sua origem, cindida racialmente.
A produção de conhecimento por meio de estudos e pesquisas, bem como a disseminação de informações sobre o racismo, a história da população negra e suas contribuições são essenciais para aprofundar a compreensão das desigualdades raciais e suas manifestações em diversas esferas da sociedade. Nesse cenário, há a necessidade de estabelecer contornos comunicacionais e construir contra-narrativas que respondam aos desafios impostos a essas pautas no Brasil atualmente.
O Ibirapitanga apoia iniciativas de consolidação de um ecossistema de jornalismo e mídia antirracista com amplo alcance e incidência no debate público e na grande mídia; de fortalecimento de núcleos de referência de pesquisas sobre a questão racial no Brasil; e de ampliação da capacidade da sociedade civil no enfrentamento aos discursos e agendas anti-identitários, fundamentalistas e conservadores.
Taxa de permanência das organizações no portfólio em 2024
Renovação e novos apoios de 2017 a 2024
Perfil das lideranças das organizações com doações ativas em 2024
Últimas doações
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Equidade racial
Coletivo Nzinga
O Coletivo N'zinga, localizado em Belo Horizonte, é uma organização feminista negra que luta contra a discriminação racial e de gênero, buscando a inclusão socio-política e econômica das mulheres negras. Fundado em 1986, o coletivo atua em diversas áreas, como combate ao racismo, saúde sexual e reprodutiva, direitos reprodutivos da mulher negra e violência de gênero, com recorte étnico-racial.Saiba mais-
Fortalecimento Institucional do Coletivo Nzinga de Belo Horizonte
Sobre a doação
Apoio para viabilizar o projeto “Mulheres negras fortalecidas e articuladas por reparação e bem-viver”, que busca enfrentar os efeitos do racismo estrutural e da desigualdade de gênero sobre as mulheres negras em Minas Gerais. Por meio do apoio, será possível estruturar a sede do coletivo em Belo Horizonte, contratar equipe estratégica e desenvolver ações formativas e de mobilização nos dez territórios do estado, especialmente em regiões com menor acesso à informação. O projeto prevê ainda a realização do 2º Encontro Estadual de Mulheres Negras e a articulação da participação mineira na 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, marcada para novembro de 2025.
Valor
R$ 150.000,00Duração
12 mesesAno
2025
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Documentos
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10 questões sobre alimentação no Brasil hoje
2025Ano
2025 -
Branquitude: racismo e antirracismo (2ª edição)
2021Esta publicação reúne reflexões sobre a branquitude a partir de debates que destacam sua centralidade na estrutura do racismo institucional no Brasil. Ao convocar pessoas brancas a reconhecerem sua posição histórica de privilégio e responsabilidade, o material propõe uma releitura crítica das desigualdades raciais, enfatizando que a superação do racismo exige a desconstrução ativa de ideologias de dominação, além da redefinição da cidadania e da justiça social.
Autoria
Instituto IbirapitangaAno
2021 -
Demonstrações financeiras 2018
2018Ano
2018 -
Demonstrações financeiras 2019
2019Ano
2019