O melhor do Brasil é a sociedade civil brasileira

Com o início do novo governo, o país assistiu a uma virada simbólica nos discursos e posicionamentos sobre temas fundamentais à sociedade brasileira. Além de conferir algum fôlego a uma democracia cambaleante, organizações da sociedade civil que ocupavam trincheiras para a sustentação de um estado de direito sob constante ameaça começaram um movimento de construção ou reconstrução de políticas orientadas à redução das desigualdades no país.
O povo brasileiro, de forma bastante literal, subiu a rampa numa afirmação da diversidade como valor e prática a ser cuidada, celebrada e expandida. Se essa mudança não produz imediatamente uma melhoria nos indicadores sociais, ela pavimenta o imaginário que permite a construção – e a disputa – de políticas que deverão ser implementadas nos próximos anos.
A atuação da sociedade civil durante o governo que se encerrou em 2022 foi fundamental para fazer frente às investidas antidemocráticas e aos retrocessos em diversas áreas. Essa força é resultado de experiências e construção de capacidades acumuladas nas últimas décadas. E, neste sentido, é fundamental não apenas irrigar os canais de colaboração e construção com o novo governo, mas também reforçar o papel fundamental da sociedade civil de controle social, de elaboração de políticas e de disputa sobre as questões definidoras ao futuro do país.
O investimento no fortalecimento e autonomia da sociedade civil não é apenas fundamental em tempos de governos autoritários, mas também para o aprofundamento da democracia e da participação social. Práticas autoritárias e antidemocráticas estão enraizadas em diversos segmentos da sociedade. A construção de uma cultura política de respeito à diversidade e de garantia de liberdades individuais não deve ser desmobilizada nem relegada ao governo, mas consolidada como prática cotidiana de uma sociedade civil atenta.
Esta construção dialoga com diversas ações já tomadas pelo atual governo, com destaque para a retomada da pasta de igualdade racial, oficialmente como Ministério, e a restituição do CONSEA — Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Mais do que esperançar, esse momento invoca o saber sobre como a sociedade civil brasileira chegou até aqui, o que tem a ofertar e o que espera de um governo que deve reconhecer e respaldar um genuíno e engenhoso Brasil que permitiu sua chegada.