Laboratórios colaborativos geram soluções para sistema alimentar em tríplice fronteira do Sudeste brasileiro

Oficina em andamento no espaço da Silo, 2019.
A forma de produção, distribuição e consumo de alimentos, em sua estrutura hegemônica, representa um modelo em esgotamento quanto ao impacto socioambiental, cultural e à saúde da população. A partir da perspectiva agroecológica, uma série de outras propostas e caminhos possíveis em relação aos sistemas alimentares como um todo vêm sendo testadas e implementadas, com baixo impacto ambiental e cadeia de valor justa entre os diversos atores implicados, afirmando sua viabilidade enquanto modelo. O estímulo à produção de conhecimento, a troca de saberes e experiências neste campo são fatores chave no avanço e sustentabilidade desses processos.
A tríplice fronteira entre Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, é uma das regiões onde práticas nesse sentido estão convergindo. É lá, situada na encosta leste do Parque Nacional de Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, que a Silo – Arte e Latitude Rural atua para difundir arte, ciência e tecnologia em áreas rurais e unidades de preservação ambiental. A ação da Silo questiona a lógica que centraliza a produção de conhecimento na área urbana para promover uma troca de saberes mais horizontal entre a cidade, o campo e a floresta. Um dos focos da organização é descentralizar a produção de conhecimento promovendo trocas de saberes de forma mais horizontal entre a cidade, o campo e a floresta. Suas iniciativas proporcionam também práticas transdisciplinares de imersão, bem como processos regenerativos relacionados à sustentabilidade e transformação sociocultural, o que faz com que a organização tenha a experiência da inovação muito presente em suas metodologias e resultados.
Uma das iniciativas conduzidas pela Silo, o CaipiraTech Lab, carrega fortemente essa característica, funcionando como respiro metodológico para as práticas agroecológicas, com sua edição mais atual, apoiada pelo Instituto Ibirapitanga. O CaipiraTech Lab é voltado ao intercâmbio de saberes e consonância entre diferentes atores do campo da agroecologia – consumidores, prestadores de serviço, produtores de alimentos e pequenas manufaturas orgânicas – para a criação de uma rede consciente, diversa, influente, em prol da cultura da produção e do consumo de alimentos saudáveis, justos e sustentáveis.
Como início desse processo, a Silo realizou uma pesquisa de mapeamento de produtores de alimentos agroecológicos, de agricultura familiar, da região do Vale do Rio Paraíba e da Serra da Mantiqueira. A pesquisa serviu como base para a implementação de uma primeira fase do programa CaipiraTechLab, que conta com campanha para valorização do sistema alimentar da região, envolvendo os agricultores familiares localizados por meio do mapeamento.
O CaipiraTech Lab é voltado ao intercâmbio de saberes e consonância entre diferentes atores do campo da agroecologia – consumidores, prestadores de serviço, produtores de alimentos e pequenas manufaturas orgânicas
O programa prevê ainda uma segunda fase, em que serão oferecidas oficinas e conversas on-line sobre diversos temas, como comunicação, tecnologias e estratégias de venda pela internet; gestão financeira e governança de coletivos, associações, cooperativas e grupos de produtores; diálogo e mediação de conflitos; metodologias para reuniões e tomadas de decisão.
Uma plataforma que reúne parte dos atores dos sistema alimentar regional – produtores (agricultores, beneficiadores e manufatureiros), consumidores e prestadores de serviços é o ponto chegada do programa nesta edição. Mais um lugar de convergência vislumbrado pela Silo, que estimula comunicação e cuja construção também é pautada a partir da lógica da colaboração.
Há ainda mais espaço para a prática colaborativa. Desde 2012, a Silo realiza laboratórios de experimentação e inovação, por meio dos quais é criado um ambiente multidisciplinar, com foco no desenvolvimento de projetos. Em 2020 a organização adaptou essa metodologia para um formato totalmente virtual, voltado ao desenvolvimento de projetos vindos das periferias rurais e urbanas, no contexto da pandemia de covid-19, que permitam replicação e adaptação a outros cenários. Assim foram realizadas duas edições do Laboratório de emergência na SILO, com chamadas públicas e participação em lives e mentorias para projetos. A primeira chamada, para projetos, contou com cerca de 300 participantes e a segunda, para colaboradores, contou com 235 participantes. Com apoio do Ibirapitanga, a Silo lançará uma terceira chamada, que tem como foco temas relacionados aos sistemas alimentares.
Em um convite à valorização e conexão com os vívidos saberes e práticas regionais, a Silo, junto a seus parceiros, impulsiona para além das fronteiras das cidades, mas em diálogo com elas, num deslocamento da centralidade de produção de conhecimento. Laboratórios de onde emergem soluções para atravessar o agora e pensar o futuro, em experiências que também fazem respirar a agroecologia.