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História teste

10.04.2025

“Um facho sinuoso desliza sobre o chão, chacoalha as folhas, estremece a terra e borbulha as águas. É Dangbé, o vodum da proteção, do equilíbrio e do movimento. Nele, nada principia nem finda, tudo avança, tudo retorna. É o constante rodopio do universo, o círculo fechado, sentido materializado pela imagem da cobra engolindo a própria cauda.”

Trecho da sinopse do enredo da Viradouro em 2024)

O carnaval passou, mas os aprendizados que ele traz tendem a permanecer habitando nosso imaginário, pelo menos por um tempo. E não foi diferente em 2024, com os arrebatadores enredo e desfile da escola de samba campeã do grupo especial do Rio de Janeiro, a Viradouro, que abordou o culto aos Voduns dos povos da região da Costa da Mina, na África.

Rememoramos esse desfile campeão que também nos projeta para esse mês de março com outras narrativas sobre o feminino. Seja na figura das Sacerdotisas Voduns, das Guerreiras Mino e de Ludovina Pessoa, que se fez ponte para o culto no Brasil, o desfile honrou o protagonismo feminino daquelas que se fizeram guardiãs e perpetuadoras desse ciclo de avanço e retorno, da tradição e da resistência.

Projeto Afro Memória

O Projeto Afro Memória organizado pelo Arquivo Edgard Leuenroth em parceria com o Núcleo de pesquisa e formação em raça, gênero e justiça racial — Afro CEBRAP, recupera, preserva e difunde a memória negra por meio dos Cadernos Afro Memória, que abordam determinada trajetória de atores e organizações ou temática presentes nos acervos da luta antirracista. 

Não é a primeira vez que a Viradouro faz essa reverência ao fundamental e diverso papel das mulheres na cultura africana e afro-brasileira. Em 2020, a escola foi campeã com o enredo “Viradouro de alma lavada”, que homenageou as Ganhadeiras de Itapuã, lembrando o sistema de ganho da Bahia no período da escravidão, bem como as manifestações culturais e religiosas de Itapuã que influenciaram a grupo musical das Ganhadeiras e outros grupos regionais femininos do Brasil.

O desfile contou com a participação de lideranças do movimento de mulheres negras da sociedade civil organizada, mostrando também as conexões entre o carnaval e os movimentos sociais, tanto na produção dos enredos, quanto também na própria organização das escolas de samba enquanto ambiente de nutrição da resistência cultural negra, em especial na representatividade simbólica.

A classificação NOVA e as pesquisas decorrentes

Só no último carnaval, metade das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro abordou temas com referências africanas e afro-brasileiras — Beija-flor, Mangueira, Paraíso do Tuiuti, Portela, Vila Isabel e Viradouro. No caso das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo foram quatro — Camisa Verde e Branco, Dragões da Real, Independente Tricolor e Acadêmicos do Tucuruvi.

“Muitas fomes e crises sistêmicas” — Entrevista com Sandra Chaves

Intituto Ibirapitanga conversou com Sandra Chaves, vice-coordenadora da Rede PENSSAN, sobre insegurança alimentar sob uma perspectiva sistêmica

No Rio de Janeiro, para além das escolas de samba, houve destaque também para a trajetória de uma notável mulher negra, na homenagem a Conceição Evaristo, feita pela Banda de Ipanema, um dos maiores e mais tradicionais blocos da cidade, que ocupa as ruas do bairro na Zona Sul, onde parte da elite branca habita.

Olhando mais a fundo e deixando o êxtase da grande festa transmitir e nos fazer apreender seus ensinamentos, o carnaval pode passar, mas nos deixar como legado ferramentas para seguir na subversão de um imaginário racista, recolocando a cada ano elementos de culturas e intelectualidades ricas, que devem ser reconhecidas e valorizadas como negras.

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