Voltar para histórias

Três pontos sobre fome e agricultura familiar por MPA

Sistemas alimentares
21.06.2022

De acordo com o 2º VIGISAN — Inquérito nacional sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia da covid-19 no Brasil, a insegurança alimentar em seus diferentes níveis está presente em mais de 60% dos domicílios das áreas rurais. O inquérito também revelou que 38% dos domicílios de agricultores familiares e pequenos produtores rurais são afetados com as formas mais severas de insegurança alimentar.

Para entender um pouco mais dessa situação, Saine Santos, da coordenação nacional e responsável pela secretaria nacional do MPA — Movimento dos Pequenos Agricultores, abordou três pontos sobre o cenário atual, que leva quem planta no Brasil a ter cada vez menos o que comer.

1. A agricultura familiar e a fome

A fome, que havia reduzido muito entre 2004 e 2014, voltou a crescer entre 2016 e 2020, chegando a atingir mais de 19 milhões de pessoas, e teve um aumento absurdo em dois anos de pandemia de covid-19, consequência do descaso, abandono e desmonte das políticas públicas causadas pelo governo Bolsonaro. Conforme revelam os dados do 2º VIGISAN, divulgado pela Rede PENSSAN, a insegurança alimentar hoje atinge mais de 125,2 milhões de pessoas. Mais de 33,1 milhões de pessoas estão em insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome pela privação completa do acesso aos alimentos.
Durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro, por meio de suas escolhas políticas de governo, negligenciou e teve postura negacionista diante da demanda de vacinação e de distanciamento social, além de não garantir o mínimo de renda para que as famílias pudessem ter comida no prato. Também não garantiu nenhum subsídio para a agricultura camponesa seguir produzindo a diversidade dos alimentos que abastecem a mesa do povo brasileiro. Pelo contrário, vetou o Projeto de Lei Assis Carvalho (PL 735/20), que visava medidas emergenciais de amparo às famílias camponesas e a agricultores familiares do Brasil para mitigar os impactos socioeconômicos da pandemia, bem como implementou um pacote de desmonte de programas como o PAA — Programa de Aquisição de Alimentos e de sucateamento da CONAB — Companhia Nacional de Abastecimento.
A fome nessa quadra da história brasileira tem como elementos explicativos a lógica de produção e circulação de alimentos no modo de produção capitalista, mas também se agrava com a crise do capital iniciada em 2008. A essa crise somam-se as crises energética, ambiental e sanitária.

2. A fome no campo e na cidade

Como revelado no 1º inquérito, o quadro se repete agora novamente. A fome tem lugar, tem sujeito, tem classe social e segue se alastrando no campo e nas periferias. Os dados mostram que a fome cresceu no campo. Atualmente mais de 18,6% das famílias no campo convivem com a fome (insegurança alimentar grave) e esta é uma realidade sobre a qual nós do MPA já vínhamos alertando. A fome é um projeto e está totalmente ligada à reprodução do capital e seu modelo de produção. Temos um cenário de aumento da pobreza das populações rurais e de desmonte das políticas de apoio à produção camponesa, portanto mesmo a classe que tem o papel da produção de alimentos segue passando fome.

3. Mobilizações e saídas possíveis

Nós acreditamos que a saída perpassa por uma política de Estado que garanta a produção de alimentos saudáveis. Para isso, é preciso um programa nacional de produção de alimentos com base agroecológica, junto a uma política nacional de abastecimento descentralizado nas periferias, para que chegue alimento na mesa dos que estão com fome ou nos outros níveis de insegurança alimentar. O Estado deve assegurar o direito à alimentação como previsto na Constituição, porém quem tem fome não pode esperar. É por isso que, desde início da pandemia, o Movimento dos Pequenos Agricultores vem construindo o Mutirão contra a fome, campanha permanente de doação de alimentos produzidos por camponeses e camponesas, articulada com organizações sindicais, por meio de doação de cestas agroecológicas, bem como com cozinhas solidárias em parceria com MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. O Mutirão Contra a Fome é uma campanha que busca minimizar a situação de fome e construir mecanismos organizativos nas comunidades, a exemplo dos CPAs — Comitês Populares do Alimento, discutindo com a população sobre o contexto de fome e como é possível, a partir desses processos, construir formas para superar o problema, por meio da luta pelo direito à alimentação.

Doações relacionadas

  • Sistemas alimentares

    MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

    O MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores é um movimento camponês, de caráter nacional e popular, de massas, autônomo, de luta permanente, cuja base social é organizada em grupos de famílias nas comunidades camponesas. O MPA busca resgatar a identidade e a cultura camponesa na sua diversidade. Se coloca ao lado de outros movimentos populares do campo e da cidade para a construção de um projeto popular para o Brasil baseado na soberania e pelos valores de uma sociedade justa e fraterna.

    Saiba mais
    • Agroecologia e abastecimento popular de alimentos

      Sobre a doação

      Apoio para potencializar a produção agroecológica e coordenar ações de abastecimento popular de alimentos em meio à crise sanitária e econômica que o país enfrenta em função da pandemia de Covid-19. O apoio concentra ações em três eixos: (i) produção agroecológica e abastecimento popular; (ii) campanha nacional Mutirão contra Fome, voltada à doação de cestas básicas de alimentos da agricultura camponesa para famílias de baixa renda e em vulnerabilidade social; (iii) comunicação, com foco na difusão das ações do Movimento de Pequenos Agricultores, para ampliação de seu alcance e, principalmente, da Campanha Mutirão contra a Fome.

      Valor

      R$ 300.000,00

      Duração

      8 meses

      Ano

      2020
    • Agroecologia e abastecimento popular de alimentos

      Sobre a doação

      Apoio voltado à continuidade das ações de fortalecimento das experiências territoriais de produção agroecológica e abastecimento popular, estimulando, através da cooperação e solidariedade, a relação campo-cidade, a organização social e a comunicação em torno da soberania alimentar. O projeto está organizado para atuar em cenário de transição para o período pós-pandemia, em dois eixos de ações: (i) experiências de organização social e produtiva baseadas na agroecologia, cooperação, protagonismo feminista e juvenil, agregação de valor e produção de cultura, comercialização em circuitos curtos e abastecimento popular; (ii) ações de comunicação com foco na divulgação das experiências agroecológicas potencializando seu alcance social em vistas de construir apoio para os sistemas alimentares baseadas na agricultura camponesa, agroecologia, cooperação e desenvolvimento territorial.

      Valor

      R$ 450.000,00

      Duração

      24 meses

      Ano

      2021
    • Sistemas Alimentares Sustentáveis

      Sobre a doação

      Apoio para dar continuidade às ações de fortalecimento das experiências territoriais de produção agroecológica e abastecimento popular, estimulando por meio da cooperação e solidariedade a relação campo-cidade, a organização social e a comunicação em torno da força material e simbólica da soberania alimentar. Por meio do apoio, a iniciativa espera: (i) viabilizar a capacitação, acompanhamento e apoio financeiro aos quadros de base (ii) garantir a melhoria nos processos de produção agroecológica, avançar nos projetos de agroindústria e bioinsumos, expandindo as feiras e estratégias de circulação da produção camponesa; e (iii) fomentar formações em rede, com a realização do Curso em biopoder camponês, voltado às bases produtivas, onde se discutem e realizam práticas agroecológicas.

      Valor

      R$ 600.000,00

      Duração

      24 meses

      Ano

      2024
    • Apoio às ações emergenciais em razão das enchentes ocorridas no estado do Rio Grande do Sul

      Sobre a doação

      O MPA está mobilizando a produção de alimentos em territórios que não foram atingidos com maior intensidade para abastecer as cozinhas solidárias. Além disso, a organização está participando da Missão Sementes de Solidariedade – da qual fazem parte também CPT — Comissão Pastoral da Terra, MAB — Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens, Rede de Agroecologia Ecovida e outras 12 organizações e cooperativas camponesas. A Missão está voltada a garantir apoio à reconstrução e reestruturação produtiva dos camponeses e camponesas.

      Valor

      R$ 100.000,00

      Duração

      6 meses

      Ano

      2024
  • Sistemas alimentares

    MTST — Movimento dos Trabalhadores sem Teto

    O MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem Teto organiza e impulsiona identidades coletivas de trabalhadores urbanos a partir do local em que vivem, em torno de suas reivindicações e lutas. Sua missão é combater a desigualdade no Brasil e lutar pelos direitos de todos e todas, em ações voltadas à ampliação territorial, nas fábricas e nas empresas, por meio dos sindicatos e nos territórios periféricos. A organização social estimula e valoriza as iniciativas autônomas, construindo ambientes de decisão coletiva  e reivindicação de direitos.
    Saiba mais
    • Cozinhas solidárias — luta pelo direito à alimentação e soberania alimentar

      Sobre a doação

      Apoio anual estratégico à cozinha modelo em S. Bernardo do Campo, parte de um projeto nacional de constituição de cozinhas solidárias em áreas periféricas do Brasil. Além de manutenção de equipe e de estrutura, prevê aquisição de alimentos in natura e apoio à realização de pesquisa de avaliação de impacto em parceria com IEA/USP.

      Valor

      R$ 194.670,00

      Duração

      12 meses

      Ano

      2021
    • Apoio às ações emergenciais em razão das enchentes ocorridas no estado do Rio Grande do Sul

      Sobre a doação

      A partir da experiência amplamente reconhecida das Cozinhas Solidárias, o MTST está produzindo e oferecendo refeições de qualidade para os afetados pelas enchentes em Porto Alegre e outras cidades atingidas no Rio Grande do Sul. Com a produção aproximada de 3.750 marmitas por dia, atualmente o movimento articula recursos para a reconstrução de sua cozinha da Azenha, em Porto Alegre. A iniciativa disponibiliza uma campanha de doação no site Apoie-se.

      Valor

      R$ 100.000,00

      Duração

      6 meses

      Ano

      2024

Receba informações do Ibirapitanga