Ciência e comunicação caminham de mãos dadas

Em março de 2021, o Brasil completou um ano do primeiro caso de covid-19 em seu território. Neste tempo, um dos grandes desafios evidenciados durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, é a disseminação de informações confiáveis ao público sobre a doença e como preveni-la.
Para esta e outras questões importantes na sociedade, a divulgação científica populariza e estreita os vínculos entre a ciência e o cidadão, por meio de instrumentos de comunicação que contribuem ao acesso qualificado à informação, que serve de estrutura para tomadas de decisões individuais e coletivas. Seu papel social se estabelece como ponte, no sentido de traduzir uma linguagem especializada a uma que alcance um público mais amplo e estimule a participação social.
Para fomentar e desenvolver pesquisas populacionais em nutrição e saúde, como serviço à informação qualificada, o NUPENS/USP — Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo é um centro de excelência e reconhecimento internacional. Integrado por professores e pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública, é responsável por muitos dos estudos que fundamentaram o conceito de produtos ultraprocessados no Brasil.
O NUPENS criou a classificação NOVA, um sistema baseado nos graus de processamento dos alimentos e seus efeitos na saúde, assumindo que o nível do processamento a que alimentos são submetidos determina não apenas seu conteúdo em nutrientes, mas outros atributos que podem influenciar o risco de obesidade e de outras doenças relacionadas à alimentação.
Com o apoio do Instituto Ibirapitanga, o NUPENS/USP está desenvolvendo sua estratégia de divulgação científica, para difundir os dados de suas pesquisas no Brasil e no exterior, bem como para obter maior incidência política quanto aos impactos de alimentos ultraprocessados na saúde. Com este projeto, a instituição vai em direção ao seu propósito de contribuir para a disseminação do conhecimento científico em prol de uma sociedade mais saudável, bem como de obter maior incidência política quanto aos impactos de alimentos ultraprocessados na saúde.
Recentemente, o Núcleo desenvolveu o Estudo NutriNet Brasil, o maior ensaio sobre alimentação e saúde já realizado no país. O Nutrinet espera mapear quais os padrões de alimentação propiciam melhores condições de saúde e menos doenças para a população brasileira. O estudo pretende gerar evidências científicas que embasam recomendações sobre alimentação, por parte de profissionais de saúde e ações e políticas públicas que visem melhorias à saúde dos brasileiros.
A iniciativa espera acompanhar 200 mil pessoas de todas as regiões do país, para identificar características da alimentação, que aumentam ou diminuem o risco de doenças crônicas não transmissíveis. A pesquisa está disponível em uma plataforma de cadastro online e conta com a participação de pesquisadores de diferentes unidades da USP – Saúde Pública, Medicina, InCor – Instituto do Coração –, de outras universidades e centros acadêmicos brasileiros, bem como do INCA — Instituto Nacional do Câncer.
O NUPENS/USP vem desenvolvendo a profissionalização das áreas de gestão e comunicação para ampliar sua capacidade de divulgação científica, estabelecendo eixos de comunicação, monitoramento e consultoria específica para o setor.
Para potencializar processos como este, em 2020 surgiu a Agência Bori, um serviço que leva o conhecimento produzido por cientistas brasileiros de diferentes áreas até os jornalistas de todo país. O nome Bori é uma homenagem à pesquisadora Carolina Bori — primeira mulher a presidir a SBPC — Sociedade brasileira para o progresso da ciência — cientista-chave para a consolidação da ciência brasileira. A ideia da agência é aumentar a presença da ciência nacional na imprensa e também na vida das pessoas, executando um papel importante por meio da disseminação massiva das pesquisas de excelência do país, bem como estimulando a produção do conhecimento nacional que vira notícia e que chega em toda a sociedade.
Segundo levantamento da própria agência, em 2018, o Brasil produziu cerca de 230 artigos científicos por dia, ficando entre os 15 maiores produtores de ciência do mundo. No entanto, poucos estudos são divulgados pela imprensa e a maior parte não chegam à sociedade.
Na prática, a Bori faz um levantamento em bases de periódicos acadêmicos para selecionar estudos recentes de cientistas brasileiros e escolher pesquisas com maior interesse social para levar à imprensa.
A iniciativa, inédita no país, oferece área exclusiva em seu site, para que jornalistas de todo país se cadastrem e tenham acesso a divulgações antecipadas de pesquisas brasileiras, textos explicativos, imagens e um contato de porta-voz de pesquisa. Os temas de pesquisa divulgados passam por assuntos sobre saúde, ambiente, economia, cidades e até esportes.
Recentemente, a agência fez um ano de atuação e levou cientistas, jornalistas e editores de revistas científicas, para uma conversa sobre os principais desafios, experiências e estratégias de comunicar ciência para a sociedade.
Entender os caminhos que possibilitam um ecossistema que integra as comunidades científica e jornalística é afirmar a confluência entre Ciência e Comunicação na orientação confiável à população. Em tempos obscurantistas, tanto a Bori quanto o NUPENS/USP atuam na promoção de mudança na cultura científica do país, reforçando seu papel promissor de resposta ao cenário negacionista e fortalecendo a ciência brasileira.