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Elaborando a consciência negra por reparação

Equidade racial
29.11.2024

“Nós, mulheres negras, vamos apresentar ao mundo qual é o nosso projeto de reparação. Construído por nós, dentro dos nossos territórios, dentro das nossas cidades, num diálogo coletivo, debaixo do pé de árvore, nas nossas comunidades. É dessa forma que a gente vai fazer.” Naiara Leite, coordenadora executiva de Odara — Instituto da Mulher Negra.

A última semana do mês em que temos como marco o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, contou com o lançamento do escritório operativo em Brasília da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, a ser realizada em 2025 com o tema “por reparação e bem viver”. A fala de Naiara Leite, realizada na mesma ocasião, faz referência ao termo que passou a ser mais debatido nacionalmente e que atravessa um momento de desafio de definição e demanda por ampliação de experiências concretas, especialmente pelo Estado brasileiro, considerando também o debate global. O próprio convite para o lançamento aponta para algumas propostas, mencionando que quando mulheres negras das cinco diferentes regiões do Brasil são indagadas “sobre o significado de ‘reparação’ e ‘bem viver’ para a vida delas, são múltiplas as respostas” e que “desta cosmovisão de mulheres negras, surgem os valores análogos a estes conceitos, como a ancestralidade, a inclusão, o cuidado, a justiça social e ambiental, a igualdade de oportunidades, o pertencimento, a identidade, o desejo de sermos ouvidas e atendidas e a garantia de nossos direitos, corpos e territórios”.

O olhar para a perspectiva reparatória na garantia de direitos, corpos e territórios também está presente na iniciativa Consórcio Viva Pequena África, formado pelo Ceap — Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, pela PretaHub e pela Diaspora.Black, que reforça a importância do território da Pequena África e da agenda de ações de reparação quanto ao legado perverso da escravidão. Com recursos mobilizados pelo BNDES, a iniciativa é também um momento de chamado de toda a sociedade brasileira, incluindo o campo filantrópico, para o envolvimento em ações consistentes de reparação do persistente legado da escravidão, e marcou presença no mês de novembro em um dos espaços de diálogo do G20 social.

As duas iniciativas, apoiadas pelo Instituto Ibirapitanga, são resultados e elaboram sobre a ampla agenda da reparação construída pelos movimentos negros nas últimas décadas, que aponta para a demanda por uma descontinuidade histórica que seja capaz de interromper os efeitos da escravidão aprofundados no pós-abolição.

O apoio do Ibirapitanga às duas experiências é parte de um dos objetivos do programa Equidade racial de apoiar organizações e movimentos que aprofundem o debate sobre reconhecimento e reparação e sua relação com a centralização e a valorização da memória negra, tendo como foco a premissa fundamental do nosso trabalho, de fortalecer a sociedade civil brasileira e sua capacidade de transformação e preservação das liberdades e da democracia.

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