Fazer existir o caminho de saída da fome rumo a sistemas alimentares justos, saudáveis e sustentáveis

Cozinha Solidária do Jd Damasceno, Zona Norte de SP |
Muito se falou nos últimos dois anos sobre a volta da fome. Ações de solidariedade se multiplicaram, mas com seus limites muito presentes. Sempre esteve nítida a falta que fizeram as políticas públicas pensadas para o acesso à alimentação adequada e saudável, desmontadas a partir do dia um do governo Bolsonaro. Já no início do terceiro governo Lula, a restituição do CONSEA é uma realidade e políticas públicas para endereçar a fome começam a ser pensadas e articuladas a partir de experiências da sociedade civil, a exemplo das Cozinhas Solidárias, do MTST.
Seja na restituição do CONSEA, seja na abordagem à fome, as possibilidades que temos hoje são fruto da incansável e inventiva resistência da sociedade civil em torno da questão alimentar nos últimos quatro anos.
Conheça quatro experiências apoiadas pelo Instituto Ibirapitanga que resistiram ao desmonte das políticas alimentares e à má gestão da pandemia no Brasil pelo governo anterior e agiram como ponte para o momento atual, produzindo pesquisa, incidência política e experiência de saída da fome rumo a sistemas alimentares justos, saudáveis e sustentáveis.
Conferência nacional popular, por direitos, democracia, soberania e segurança alimentar e nutricional
Diante da extinção do Consea – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional em 2019, o FBSSAN convocou a “Conferência nacional popular, por direitos, democracia, soberania e segurança alimentar e nutricional”. Foi uma resposta dupla da rede ao contexto de crise democrática que afetou as políticas do campo da alimentação. Por um lado, com a impossibilidade de uma nova Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (que teria sua 6ª edição, caso o Consea estivesse em funcionamento), o FBSSAN garantiu condições para manter viva a agenda pública tratada nesse espaço, bem como coeso seu campo de atores, a partir de uma organização autônoma. Por outro, permitiu um novo arranjo, a partir da sociedade civil, para monitorar e promover estratégias de enfrentamento às ameaças à estrutura das instâncias do Sisan – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.
Ação Coletiva Comida de Verdade
A “Ação Coletiva Comida de Verdade: aprendizagem em tempos de pandemia”, realizada em 2020, foi um ponto de convergência para mapear, identificar e compreender como as experiências de abastecimento de alimentos no contexto da pandemia de covid-19 colaboraram para a construção e o fortalecimento de sistemas alimentares justos e sustentáveis. A iniciativa foi fruto de abrangente articulação da sociedade civil em torno da questão alimentar, incluindo ANA – Articulação Nacional de Agroecologia; ABA – Associação Brasileira de Agroecologia; Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva; ActionAid; Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável; FBSSAN – Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; GEPAD – Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento; Observatório do Desenvolvimento Regional; OPSAN – Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição; Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e RETE – Rede Brasileira de Pesquisa e Gestão em Desenvolvimento Territorial.
Agroecologia e abastecimento popular de alimentos
Realizada entre 2020 e 2021 pelo MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores, a iniciativa teve como objetivo potencializar a produção agroecológica e coordenar ações de abastecimento popular de alimentos em meio à crise sanitária e econômica, a partir de três frentes: apoio logístico e pessoal a experiências territoriais baseadas na agroecologia; Campanha Nacional Mutirão contra Fome; e comunicação para difundir e popularizar as ações do projeto.
Cozinhas Solidárias
Idealizado em 2021 pelo MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o projeto Cozinhas Solidárias, busca impactar diretamente a vida da população mais vulnerável das periferias urbanas, por meio da distribuição de alimentos saudáveis e sustentáveis produzidos por um processo que também valoriza a formação de profissionais nesse campo. O movimento vê na cozinha um espaço de enraizamento local do trabalho comunitário e de diferentes processos de formação política com potencial de impulsionar a transformação do presente cenário.