Visões dos campos: percurso institucional do Ibirapitanga entre 2017 e 2021
Em 2021, o Ibirapitanga realizou uma avaliação do percurso institucional para compreender os efeitos de suas estratégias nos ecossistemas relacionados aos dois programas — Equidade racial e Sistemas alimentares — a partir da visão das organizações que apoiamos e de atores-chave, contando com consultoria da Pacto — Organizações regenerativas.
O documento conta com quatro partes que descrevem os resultados. A primeira seção “Efeitos nos ecossistemas” (p. 8) traz uma visão geral das transformações no contexto político e socioeconômico do Brasil ao longo desses cinco anos e conta como a atuação do Ibirapitanga colaborou com os campos de equidade racial e sistemas alimentares. Na segunda, “Efeitos sobre os donatários” (p.17), os resultados da escuta com as organizações apoiadas são apresentados à luz do fortalecimento institucional. A qualidade do relacionamento entre o Ibirapitanga e as organizações apoiadas é descrita na seção “A relação com os donatários” (p.30). Por fim, as perspectivas de futuro das organizações apoiadas sobre a atuação do Ibirapitanga são compartilhadas na seção “Demandas e possibilidades identificadas junto aos donatários e atores-chave para o futuro do Ibirapitanga” (p.37).
Confira alguns dos destaques e também desafios do Ibirapitanga em seus anos iniciais de constituição e operação, a partir das principais mensagens e depoimentos que as organizações donatárias e atores do campo nos deixaram.
Relevância na filantropia
O Ibirapitanga é reconhecido como um ator relevante no ecossistema da filantropia brasileira, em particular nos campos de equidade racial e sistemas alimentares. Os donatários reconhecem o pioneirismo do Instituto no fortalecimento do ecossistema de sistemas alimentares no Brasil, em busca de ações mais coesas e potentes, bem como no posicionamento diante do combate ao racismo. (p. 3)
Fortalecimento institucional
As organizações donatárias reconhecem o papel do Ibirapitanga em seu fortalecimento institucional. A escuta mostrou que as doações e o apoio, especialmente o acompanhamento permanente, produziram efeitos positivos nas ações dos donatários, bem como na gestão das organizações. (p. 3)
“O Instituto Ibirapitanga foi fundamental no fortalecimento das nossas estratégias de atuação. Com este apoio pudemos pensar não apenas na sustentabilidade financeira da nossa organização, mas também como criar novos produtos, como instrumentalizar melhor nossos colaboradores com cursos e formações, assegurando a continuidade do nosso trabalho a médio e longo prazo.”
“O apoio do Instituto nos ajudou a avançar na atuação em rede, permitindo ampliar e diversificar a rede de parceiros na sociedade civil organizada, o que em última instância nos ajuda na formação de uma cultura organizacional mais diversa.”
“O apoio do Ibirapitanga tem sido um viabilizador e um ativador dos processos internos de revisão e aperfeiçoamento das concepções, espaços e ferramentas de gestão da [organização]. O apoio permitiu em particular a constituição de um núcleo permanente de gestão, que tem conduzido o diagnóstico e a introdução progressiva de nova cultura e métodos de gestão.”
Articulações sobre sistemas alimentares
Especialmente para os donatários ligados ao programa Sistemas alimentares, o Ibirapitanga é reconhecido por ter favorecido aproximações e colaborações, o que ativou incidências em frentes de atuação importantes para o ecossistema. (p. 3)
“As trocas com outras instituições da área costumam ser muito ricas: amplia conexões entre os atores, gera novos projetos/parcerias, cria um ambiente muito propício ao desenvolvimento de novas ideias. O fortalecimento desse ecossistema leva a uma outra contribuição do Ibirapitanga, que é a de divulgar cada vez mais o conceito de ‘sistemas alimentares’ e incluí-lo com mais frequência no debate público.”
Presença das pautas de equidade racial
Foi reiterada a importância do Ibirapitanga ter tomado a equidade racial como sua agenda estratégica, e não enquanto um tema transversal. Este movimento é percebido como um ganho para a justiça racial, não apenas pelo aumento da visibilidade do tema, mas pela ampliação de doações com este foco. (p. 3)
“O Ibirapitanga junta-se a um ecossistema que (…) colocará as lutas antirracistas num outro patamar, ajudando a identificar e a amadurecer líderes (…) e a dar mais capilaridade ao trabalho de instituições-chave.”
“O Ibirapitanga tem sido fundamental para a sustentação e ampliação do protagonismo dos sujeitos políticos negros e para a emergência de um protagonismo branco antirracista.”
Cultura dialógica
A disposição ao diálogo com os donatários é uma característica valorizada. Para eles, o diálogo tem servido para compreensões mútuas, aprimoramento de ideias, coprodução de propostas e para a melhor implementação dos projetos. Relatam, ainda, que tal aproximação tem respeitado sua autonomia. (p. 4)
“Essa atitude de convidar a gente pra falar é realmente estar aberto a crescer, a se transformar. Essa atitude é muito rica porque isso não é muito comum. Isso coloca o Ibirapitanga, realmente, num outro patamar em termos de diálogo.”
“Tem uma coisa no Ibirapitanga que eu acho muito legal. Eles dialogam e escutam. O Ibirapitanga é um lugar muito bom para trabalhar em parceria.”
Pontos de atenção
O relatório indica também alguns pontos de atenção. Entre eles destaca-se o desafio de: (1) ampliar a distribuição territorial das doações, sobretudo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste; (2) ampliar a presença no debate político-eleitoral de 2022; (3) ampliar as práticas de fortalecimento institucional de donatários; (4) ampliar a articulação entre as agendas de sistemas alimentares e de equidade racial; e (5) elevar a capacidade de incidência política nas agendas ligadas aos seus programas.
“O Ibirapitanga poderia diversificar ainda mais o portfólio [Equidade racial]. Diversificar geograficamente também. Não só em termos de pauta, mas nacionalizar mais o processo.”
“Talvez o Ibirapitanga pudesse ter isso [diversificação regional] no seu portfólio mais forte. Como atingir as organizações que estão trabalhando no Brasil como um todo? Tá cheio de organização apoiando a Amazônia com foco climático, ou social. Mas o Ibirapitanga trabalha sistemas alimentares, não sei se está olhando para todas as regiões do país com o mesmo peso.”
“Eu acho que existe uma enorme intersecção entre sistema alimentar e equidade racial, e pouca gente falando disso. E, caramba, se o Ibirapitanga é a organização que está trabalhando com essas duas áreas, por que não fomentar essa intersecção? Porque o racismo alimentar existe, existe uma questão muito séria aí!”