



Engenho de Farinha Polvilhada de Santa Catarina – Mostra fotográfica Casa de Farinha, Terra Madre Brasil 2020 |
Nesta entrevista, Ruth Richardson apresenta a Global Alliance e aborda o contexto de debate sobre sistemas alimentares no mundo
De acordo com o “Estudo sobre a cadeia do alimento”, lançado em 2020, “de Norte a Sul, 10 produtos concentram mais de 45% do consumo alimentar no Brasil” . O relatório traz dados sobre o consumo alimentar nos diferentes contextos socioeconômicos e regionais, entre eles, a monotonia na dieta, e foi produzido por Walter Belik em parceria com Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, com apoio do Instituto Ibirapitanga e do Instituto Clima e Sociedade. A monotonia alimentar é consequência de uma combinação de fatores em que predominam lógicas de mercado e consumo estimuladas pela indústria alimentar, além do enfraquecimento de políticas públicas para o fomento à nossa biodiversidade, considerando as bases naturais e origem geográfica dos alimentos, bem como a cultura de quem os produz e prepara.
A monotonia, no entanto, contrasta com o cenário brasileiro: país dos diferentes biomas, o Brasil abriga uma abundante biodiversidade, variedade de alimentos e seus preparos que se expressam na cultura alimentar preservada por seus povos. Criado nos anos 1980 e atualmente organizado em rede em mais de 160 países, o movimento Slow Food enxerga esse patrimônio e suas inúmeras possibilidades, estimulando esse campo no Brasil desde 2000. O movimento defende a sociobiodiversidade e o acesso a um alimento bom, limpo e justo para todos, promovendo a ecogastronomia e a educação alimentar e do gosto. Fazendo oposição à lógica das grandes empresas alimentícias, o Slow Food tem como missão salvaguardar as culturas e tradições locais que contribuem e compõem a diversidade alimentar, valorizando os saberes, os produtos e as pessoas. Em 2013 fundou a Associação Slow Food do Brasil, nó da rede e guardiã do movimento no país, que atualmente conta com 250 núcleos locais nas cinco regiões. Por meio desse trabalho e dos núcleos, a associação apoia 20 Fortalezas Slow Food((As Fortalezas Slow Food estimulam a organização entre produtores, a qualificação do protocolo de produção e a aproximação a mercados sensíveis à sua qualidade e sustentabilidade ambiental e socioeconômica. Há hoje 574 Fortalezas Slow Food no mundo, 20 delas estão no Brasil.)) e tem catalogados aproximadamente 200 produtos ameaçados de desaparecimento no Brasil na Arca do Gosto((A Arca do Gosto identifica e cataloga alimentos que compõem a sociobiodiversidade e tradições alimentares locais que estão ameaçadas pela padronização alimentar, agricultura industrial e degradação ambiental, social e cultural. O primeiro volume desta coletânea foi publicado em 2017.)).
Entre 17 e 22 de novembro de 2020, a organização realizou a terceira edição do Terra Madre Brasil, encontro da rede Slow Food que reúne produtores – agricultores familiares e produtores artesanais –, co-produtores((Para a rede Slow Food, os consumidores conscientes são considerados co-produtores.)), cozinheiros, educadores, acadêmicos, pesquisadores, comunicadores, empreendedores e outros atores da cadeia de produção de alimentos para interagir, compartilhar informações e discutir estratégias de ação.
O Terra Madre Brasil 2020, apoiado pelo Instituto Ibirapitanga, foi construído como um espaço de valorização dos produtos da agricultura familiar, da sociobiodiversidade, da ecogastronomia e das economias locais dos territórios brasileiros.
Ainda que realizado em versão online em função do contexto de pandemia, esta edição do encontro superou fronteiras geográficas em uma programação variada e inovadora capaz de envolver participantes e ajudar a trazer, de outra forma, o sentido de calor humano e trocas características das edições anteriores.
A programação do Terra Madre Brasil 2020 contou com cinco blocos de conteúdos e atividades que permaneceram disponíveis após o evento. Na programação transmitida ao vivo, o público pode assistir a rodas de conversas, diálogos, filmes, apresentações culturais, laboratórios para crianças e oficinas do gosto com cozinheiras e cozinheiros voltadas à descoberta sobre novos ingredientes e preparos. Os espaços uniram vozes diversas para abordar importantes temas da questão alimentar atualmente, a exemplo dos diálogos “Segurança Alimentar e Nutricional: Perspectivas Intersetoriais para um Mundo em Mudança”, com a Patrícia Gentil, Valéria Paschoal, Ligia Amparo e mediação por Maria Emilia Pacheco; “Alimentando Pandemias”, com Soledad Barruti, Beta Recine, Paulo Artaxo e mediação por Marina Yamaoka; e “Outros Caminhos Possíveis”, com Tiganá Santana, Jera Guarani e Frei Betto. As atrações do encontro contaram também com participações de Ailton Krenak, Gilberto Gil, Alessandra Leão e Chico César.
O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, foi marcado por uma programação especial no Terra Madre Brasil 2020. Entre os diálogos, que afirmaram, sobretudo, a importância da abordagem sobre a diáspora africana e culinária afro-brasileira, a comida de terreiro foi um dos destaques, sendo ressaltada como “alimento consciente”, por ser preparada em harmonia com o meio ambiente, respeitando a sazonalidade, a terra e as águas.
“Como se faz”, “Food talks”, “Casa de Farinha” e “Mercado Terra Madre Brasil” compuseram os demais conteúdos além da programação ao vivo. Em “Como se faz”, o evento apresentou sistemas produtivos ligados à biodiversidade e cultura alimentar brasileira, por meio de seus biomas e ecossistemas. As “Food talks” buscaram proporcionar reflexão sobre o sistema alimentar e suas interfaces com a cultura, a política, a justiça social e a ecologia. Combinando diferentes recursos sonoros e visuais, a “Casa de Farinhas” proporcionou uma imersão virtual em aspectos patrimoniais, de segurança alimentar e nutricional e da cultura alimentar que permeiam os territórios onde as farinhas são produzidas a partir de técnicas e saberes tradicionais. Para apresentar as Comunidades Slow Food, as cooperativas da agricultura familiar e os empreendimentos coletivos, o “Mercado Terra Madre Brasil” ofereceu um percurso por um mapa interativo que indica onde comprar os produtos nas cinco regiões do Brasil.
O Terra Madre Brasil reuniu mais de 200 mil pessoas, de todos os cantos do país, durante os seis dias de evento. Abraçando o desafio da versão online, inventivamente possibilitou valiosas trocas que renovam e ampliam o alcance de um importante movimento de conscientização e preservação das culturas alimentares brasileiras – chave para a saída da monotonia.
Nesta entrevista, Ruth Richardson apresenta a Global Alliance e aborda o contexto de debate sobre sistemas alimentares no mundo
A Associação Slow Food do Brasil nasceu em 2013. Sua principal missão é se contrapor ao sistema agrícola convencional, aos alimentos ultra processados pela indústria e à banalização do ato de comer.
Sobre a doação
Apoio a realização do evento Terra Madre Brasil 2020, que acontecerá 10 anos após sua 2ª edição. O encontro promove a Ecogastronomia, conecta pontas da cadeia alimentar e divulga boas práticas de produção, beneficiamento e consumo de alimentos bons, limpos e justos. Também tem como objetivo fortalecer o movimento Slow Food no Brasil, tanto do ponto de vista institucional como de rede.
Valor
Duração
Ano
Sobre a doação
Apoio para o fortalecimento institucional da Associação Slow Food do Brasil, voltado a sua consolidação como movimento social relevante na discussão em torno dos sistemas alimentares brasileiros e latinoamericanos. O apoio inclui: (i) desenvolvimento e validação de um modelo piloto de comercialização de produtos da rede Slow Food Brasil; (ii) desenho e implementação de uma campanha de doações de pessoas físicas; (iii) criação e implementação de um plano de comunicação institucional e construção de banco de imagens.
Valor
Duração
Ano
Sobre a doação
Apoio voltado a promover a participação qualificada da rede Slow Food em espaços de incidência política e a dar continuidade à formação de ativistas alimentares, promovendo a adoção de perspectiva antirracista. Por meio do apoio, a associação espera: (i) fortalecer suas capacidades de incidência política, em nível nacional e latinoamericano; (ii) consolidar o Slow Food enquanto movimento que fomenta sistemas alimentares justos e sustentáveis, a defesa da biodiversidade e da cultura alimentar; (iii) impulsionar formação em letramento racial, visando uma perspectiva interseccional, decolonial, antirracista e coerente com a atuação do movimento.
Valor
Duração
Ano